Especula-se que a peregrinação cristã a Santiago de Compostela deu continuidade a uma peregrinação pagã anterior, que terminava no Cabo Finisterra – literalmente Fim da Terra – considerado por séculos o local mais ocidental do mundo; enquanto que o Caminho Francês, a rota jacobina por excelência, corresponde a uma antiga rota de comércio romana que também seguia até o cabo.
Segundo a tradição, foi em Iria Flávia, a cidade mais importante da região durante o período romano, situada a cerca de 20 km a sudoeste de Compostela, que o Apóstolo Tiago – o Maior – pregou pela primeira vez durante a sua evangelização na Hispânia – nome dado pelos romanos ao território que hoje chamamos de Península Ibérica – em 34 d.C.
Após voltar à Judeia, ser preso, martirizado e decapitado – a mando do Rei Herodes Antipas I – Tiago teve seu corpo e sua cabeça transportados para a Galícia por seus discípulos, que após passarem por provações e testemunharem milagres, depositaram seus restos mortais no Monte Libredón, onde hoje se ergue a catedral.
No final do século VIII difundiu-se, no noroeste da Península Ibérica, a lenda de que Santiago Maior havia sido enterrado nessas terras. Por volta do ano de 813, um eremita conhecido como Pelayo avistou um campo de estrelas – “Campus Stellae” termo do qual deriva a palavra Compostela – sobre o bosque Libredón, que iluminava uma urna de mármore.
Pelayo comunicou o fato ao bispo da região, que se deslocou ao local e ali identificou o achado como sendo o sepulcro do Apóstolo Santiago.
A notícia do descobrimento espalhou-se por todo o mundo cristão, então ameaçado pelas invasões islâmicas. Tal fato vinculou íntima e definitivamente a figura de Santiago à Reconquista – processo histórico ao longo do qual os reinos cristãos da Península Ibérica recuperaram a região dominada por forças islâmicas – da qual ele foi de certa forma padroeiro.
Santiago Matamoros
No final do século IX o Rei de Astúrias, Alfonso III, peregrinou à Santiago de Compostela e ordenou a construção de uma basílica maior, digna do grande acontecimento que começava a mover os fiéis de toda a Europa.
O número de peregrinos aumentou consideravelmente a partir do século X, convertendo Santiago de Compostela no terceiro centro de peregrinação da cristandade, só superado por Roma e Jerusalém.
O fenômeno jacobino tornou intenso o intercâmbio cultural e comercial não apenas na cidade, como também nas localidades por onde passava o Caminho de Santiago, o que estimulava o repovoamento de toda a região.
Devido às inúmeras convulsões sociais vividas na Europa do século XIV, potenciais peregrinos acabaram se afastando para outros destinos e o Caminho de Santiago, ano após ano, foi perdendo o esplendor vivido nos séculos anteriores e caindo no esquecimento.
Setas indicativas do Caminho de Santiago
Depois de séculos em que foi pouco mais que uma memória do passado, no final do século XX, graças ao esforço na sinalização das trilhas e dos percursos urbanos, e ao empenho na recuperação e abertura de novos albergues, a rota jacobina foi recuperando cada vez mais sua popularidade.
Em 1985, a UNESCO declarou o conjunto monumental do centro histórico de Santiago de Compostela "Patrimônio Cultural da Humanidade".
Dois anos mais tarde, o Caminho Francês recebeu o título de "Primeiro Itinerário Cultural Europeu" pelo Conselho da Europa e em 1993 foi reconhecido também pela UNESCO como "Patrimônio Cultural da Humanidade". Em 2015 outras 4 rotas do norte foram igualmente premiadas. Desta forma, foram acrescentadas à lista as rotas do Caminho do Norte, do Caminho Primitivo, do Caminho Vasco-Riojano e do Caminho Lebaniego.
O fenômeno jacobino – resultado desta mescla entre o simbólico e o real – é hoje consagrado como componente histórico decisivo para a conformação cultural e econômica de toda a Europa.
Grupo "Buen Caminho" 2016
Embora a motivação, origem, religião e cultura do “peregrino moderno” sejam muito diversificadas e bastante distintas das do “peregrino medieval”, uma coisa é certa: o interesse e o fascínio pelo Caminho de Santiago não param de crescer!
4 thoughts on “A HISTÓRIA DA PEREGRINAÇÃO A SANTIAGO DE COMPOSTELA”
Inesquecível, inexplicável, interminável Caminho!
Nosso grupo está nessa matéria!
Muito mais que uma viagem! Uma experiência única que fica gravada no coração de cada buscador…
Sim! Aí estamos nós… 🙂