Uma das visitas mais recomendadas em Pamplona – passagem do Caminho Francês na Navarra – é a “Ciudadela”. O local não é apenas um dos lugares de lazer, esporte e cultura preferidos dos moradores e visitantes da cidade ou o pulmão verde da capital de Navarra, mas o cenário de episódios históricos, considerado o melhor exemplo de arquitetura militar do Renascimento espanhol e um dos conjuntos defensivos mais importantes do Velho Continente.
A chegada da pólvora e da artilharia na Europa – na transição da Idade Média para a Idade Moderna – marcou o início de uma revolução militar e arquitetônica. Os grandes castelos tornaram-se mais vulneráveis. Seus muros altos – até então uma passagem intransponível – passaram a ser um alvo perfeito para os canhões. Assim nasceram as fortificações com bastiões ou baluartes, das quais a Ciudadela de Pamplona é um exemplo notável.
A fortificação, inspirada no sofisticado sistema defensivo de Antuérpia, na Bélgica, foi construída em 1571 pelo engenheiro militar italiano Giacomo Palearo, "o Fratin" – a mando do rei Felipe II – para proteger Pamplona dos constantes ataques do exército francês.
Os novos e engenhosos projetos da época baseavam-se na substituição das torres medievais por bastiões ou baluartes, ou seja, por estruturas poligonais, de dois lados, sem zonas mortas e melhor adaptadas ao emprego da artilharia.
Neste esquema da Ciudadela de Pamplona, pode-se observar a presença de vários elementos defensivos característicos da época:
1. GLACIS: ampla esplanada – em declive e livre de obstáculos – que precede o fosso e permite ocultar a muralha e o topo dos baluartes. Caso a artilharia inimiga decidisse cruzá-lo, tornava-se um alvo perfeito.
2. CAMINHO COBERTO E REVELIN: o caminho coberto – parapeito que circunda a fortaleza – é o local onde os defensores circulavam e de onde podiam disparar contra o inimigo. Caso fosse necessário, a artilharia retirava-se em direção aos revelins (fortificações externas menores, com função protetiva, construídas no fosso).
3. FOSSO: escavação profunda e regular – ao alcance direto do fogo da artilharia – destinada a impedir ou dificultar o acesso do agressor à linha de defesa. Podia ser "seco" ou "molhado".
4. MURALHAS: altas e com acabamento arredondado – para dificultar a escalada – apresentam uma ligeira inclinação para desviar os projéteis dos invasores. No alto delas estão os parapeitos e as canhoneiras. Escondidas entre as paredes ficam as casamatas – fortificações baixas, às vezes parcialmente subterrâneas e com a parte superior abobadada – de onde os artilheiros, protegidos, podiam atirar em direção ao fosso.
Durante a última das três guerras carlistas, uma bateria de canhões localizada no Monte Ezcaba, também chamado de Monte San Cristobal, disparou contra a Pamplona. O ataque demonstrou a inutilidade tanto da muralha quanto do fosso. Após o último ataque carlista, uma nova fortaleza – o Fuerte de San Cristóbal – foi construída no topo da montanha com o intuito de defender a cidade. Porém – no início do século XX – com o advento da aviação, glacis e casamatas perderam seu poder defensivo.
Em 1888 – sem conhecimento militar ou estético – os bastiões de San Antón (4) e de la Victoria (5) foram demolidos para dar lugar à primeira ampliação de Pamplona. A Ciudadela, que já havia perdido sua função, perde também sua bela geometria estrelada.
Em 1964, a Ciudadela foi cedida pelo exército à prefeitura de Pamplona e a fortificação perdeu, definitivamente, seu o caráter militar. Rodeada por todos os lados pela área dos antigos glacis, hoje denominada “Vuelta del Castillo” – e após diferentes restaurações e adaptações – a fortaleza tornou-se parte de um parque público de 280 mil m², maior área verde da cidade.
Referência urbana, a Ciudadela de Pamplona guarda pontes, fossos, poços, baluartes, revelins, obras de escultores famosos e antigos edifícios militares, como o Polvorín, o Pabellón de Mixtos, o Forno e a Sala de Armas. Alguns edifícios, assim como seus lindos jardins ao ar livre, são palco de exposições, mostras culturais e grandes comemorações, como as famosas noites das Festas de San Fermín.
O “Parque de la Ciudadela y Vuelta del Castillo” permanece aberto apenas durante o dia. O ingresso é feito através de cinco portas, sendo a entrada principal na Avenida do Exército. É proibida a circulação de todos os tipos de veículo, inclusive bicicletas. O acesso ao parque, bem como à internet é gratuito. O espaço é dotado de várias ferramentas de acessibilidade às pessoas com deficiência.
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