Um novo olhar sobre o pórtico da Catedral de Santiago de Compostela
A entrada oeste da Catedral de Santiago de Compostela foi concluída, em 1188, com uma escultura românica trabalhada durante cerca de vinte anos por Mestre Mateo – arquiteto, escultor e mestre das obras da catedral – o Pórtico da Glória.
Jesus Cristo, Pórtico da Glória
Este majestoso conjunto de três arcos – povoado por toda classe de anjos, anciãos, profetas e apóstolos – é dotado de poderoso simbolismo. No centro e alto do pórtico, Cristo, sentado em seu trono, rodeado pelos quatro evangelistas e pelos bem-aventurados, com olhar sereno e amável, aguarda o peregrino que através de Santiago – representado na base – dele se aproxima.
Árvore de Jessé
Segundo a tradição, o peregrino que chegava à Santiago deveria encostar aí sua cabeça, para iluminar seus pensamentos, e colocar a mão direita no pilar central do Pórtico da Glória, como forma de agradecimento pelo sucesso de sua longa jornada. Ao longo dos séculos, incontáveis toques de fiéis esculpiram de forma impressionante o molde de uma mão neste pilar, onde se encaixam perfeitamente os dedos do peregrino. Porém, atualmente não é mais permitido tocar o Pórtico da Glória.
O pilar traz esculpida a “Árvore de Jessé”, uma representação artística da dupla condição de Jesus Cristo – humana e divina – por meio de sua árvore genealógica, desde Jessé, pai do rei David.
Santo das Cabeçadas, a representação de Mestre Mateo
Acredita-se que o rosto humano voltado para o interior do templo, na base do pilar – popularmente conhecido como o Santo de los Croques ou das Cabeçadas – é a representação do próprio escultor. A crença se deve a um antigo ritual de peregrinos e universitários compostelanos, que ao encostarem suas cabeças às da figura, esperavam que o gesto lhes transferisse parte da genialidade e sabedoria do mestre.
Desde o século XIX era percebido o estado de deterioração no qual se encontrava o pórtico. Já não era mais possível apreciar a qualidade de seus relevos e alguns trabalhos de pintura e retoques realizados em séculos anteriores trouxeram resultados desastrosos e agressivos.
A restauração
Mais de oito séculos após a conclusão da obra de Mestre Mateo e seus ajudantes, um grande projeto – no qual participaram especialistas das universidades mais prestigiadas do mundo – recuperou os entalhes e as tonalidades originais do monumento.
A restauração – que durou 10 anos – se deu graças ao patrocínio da Fundação Barrié, uma instituição privada envolvida na preservação do património histórico-artístico galego. Foi um projeto ambicioso, longo e complexo que impulsionou toda a restauração da catedral, pois antes de recuperar o pórtico foi necessário eliminar a umidade que se infiltrava tanto pelo telhado da catedral como pela fachada do Obradoiro.
Santiago apóstolo
Em julho de 2018, a Rainha Sofia inaugurou a recuperação da mais importante obra feita ao longo da história do românico europeu – o Pórtico de la Gloria – que teve todo seu esplendor resgatado, redobrando o entusiasmo de peregrinos de todo o mundo pelo Caminho de Santiago.
Todo esforço empenhado no projeto atesta o reconhecimento de seu valor para a comunidade galega, não apenas no aspecto cultural, mas também como gerador de riqueza e emprego, que deve ser preservado em benefício das próximas gerações.
Descubra quem é quem no Pórtico da Glória:
A Fundação Barrié acredita que a melhor estratégia de conservação é a educação e por isso continua a trabalhar na divulgação deste projeto, utilizando ferramentas inovadoras, como este App, que permite explorar o Pórtico da Glória com imagens gigapixel, que revelam detalhes inatingíveis a olho nu. Descubra, aprenda e divirta-se com as histórias contadas pelos especialistas através dos enredos, detalhes da restauração e das reconstruções 3D dos instrumentos musicais presentes no conjunto.
Planeje sua visita: desde o término da restauração do Pórtico de la Gloria, a Catedral de Santiago estabeleceu um sistema de visitas que permite o acesso ao espaço ao mesmo tempo que a aplicação das medidas preventivas de conservação necessárias para proteger o monumento e evitar nova deterioração.
As visitas são gratuitas e realizadas em grupos de no máximo 20 pessoas, mediante retirada dos convites na recepção do Museu, na Praça do Obradoiro.
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