O Caminho de Santiago provocou alguma transformação em você? Acredito que quase todos que trilharam este caminho já foram indagados por si mesmos ou por outros com esta questão.
Quando cheguei da minha primeira peregrinação pelo fui muitas vezes surpreendida pela curiosidade alheia. Mas eu ainda não havia feito tal questionamento a mim mesma – talvez por ter conseguido empreender esta jornada, ainda que cheia de propósito, livre de expectativas de onde ela poderia me levar – e isso me deixava sem resposta.
Percebi que muitos, ao me questionarem, buscavam alimentar sua fantasia espiritual de que bastava o sujeito colocar os pés naquela trilha pisoteada há séculos por gente de toda parte do mundo e este transcenderia a vida mundana.
Mas, definitivamente, não vejo a coisa desta forma. Porém, o entendimento da dimensão do impacto que essa experiência provocou dentro de mim foi se tornando nítido aos poucos, à medida que eu ia me reconhecendo.
Dizem que existem tantas razões para fazer o Caminho quanto pessoas que o fazem, tantos caminhos quanto caminhantes… Sim, o destino é o mesmo para todos, mas as expectativas e os propósitos atribuídos a esta experiência podem ser os mais diversos e é a combinação destes elementos que darão sentido a ela.
O Caminho de Santiago está aberto a todos, aos que tem motivação esportiva, cultural, turística, recreativa, religiosa ou espiritual; aos que esperam encontrar desafios, lindos cenários, paisagens bucólicas, duendes e gnomos, novos amigos, a Deus ou a si mesmo…
Embora todos os motivos sejam válidos e todas as expectativas consentidas, castanheiras não dão cerejas!
Grande parte dos que empreendem esta jornada buscam – de maneira mais ou menos intensa, por meio do autoconhecimento ou da fé – a consumação de algo que os ajude a se tornarem mestres de si e, por consequência, seres humanos melhores, mais completos, realizados e livres.
O Caminho nos brinda com todos os ingredientes necessários para que o “milagre da transformação” aconteça, mas não o faz por si só!
Toda reforma interior exige um propósito pessoal que vá além da diversão ou da curiosidade… É preciso abertura para acessar e intenção para desbravar esse caminho interno, exclusivamente seu, território sagrado onde as transformações acontecem.
Se o Caminho de Santiago trouxe alguma transformação em mim? Sim. Não virei santa, tampouco um reluzente abajur, mas certamente encontrei respostas para antigas perguntas, acolhi muitas imperfeições minhas e outras tantas alheias, abri mão de coisas que não mais me serviam, renunciei a fardos que não eram meus. Passei a vida a limpo, fiz as pazes com muitas partes minhas e isso me permitiu me sentir mais inteira e ser mais eu.
Em diversos momentos as preocupações se esgotaram e os murmúrios se calaram abrindo espaço para que o amor e a compaixão florescessem… Vislumbrei a mais autêntica felicidade, aquela que não depende de nada além de simplesmente existir!
Desde então, me dedico a ajudar outras pessoas a viverem esta experiência, que pode ser uma das mais significativas de suas jornadas pessoais.
Buen Camino!
“Se o fim é conhecido de maneira apropriada, o caminho se torna claro.”
Swami Dayananda Saraswati
MAIS SOBRE: O CAMINHO DE SANTIAGO COMO MEIO DE AUTOCONHECIMENTO
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