O MILAGRE DO SANTO GRAAL GALEGO DE O CEBREIRO

Em pleno Caminho Francês, na fronteira das províncias de León e Lugo, a uma altitude de 1.293 metros, encontra-se O Cebreiro, o primeiro povoado galego da rota compostelana e também um dos mais emblemáticos graças à sua arquitetura típica, às suas vistas espetaculares e ao seu enigmático passado, provavelmente, celta.

A mística do local é corroborada pela veneração ao Milagre do Santo Graal, também chamado de Milagre Eucarístico de O Cebreiro, que segundo a tradição, deu-se na igreja de Santa María La Real, fundada em 836 – junto a um mosteiro e uma hospedaria-hospital para atender os peregrinos – pelo conde francês, San Giraldo d’Aurillac.

As condições climáticas do local são tão extremas que o templo beneditino – considerado o monumento mais antigo do percurso jacobino, totalmente preservado, com exceção da fachada – costumava soar seus sinos, durante os invernos rigorosos, para orientar os peregrinos em meio à neblina.

Conta-se que no início do século XIV, a igreja do lugarejo foi o cenário de um milagre no momento da consagração eucarística. A hóstia transformou-se em carne e o vinho em sangue, após o pároco de O Cebreiro – que duvidava da real presença de Cristo no Santíssimo Sacramento – menosprezar o sacrifício de Juan Santín, um camponês da vila vizinha de Barxamaior, único devoto a comparecer à missa naquele dia especialmente frio.

Pouco antes do milagre – ao ver a chegada do fiel em meio a uma nevasca – o padre teria exclamado: "Quem vem com tamanha tempestade e tão cansado, apenas para se ajoelhar diante de um pouco de pão e vinho!"

Diz-se que a imagem românica da Virgem dos Remédios – hoje chamada de Nossa Senhora do Santo Milagre – até curvou-se em sinal de adoração diante do milagre, enquanto o padre caia morto ao pé do altar.

A história espalhou-se rapidamente por toda a Europa, na voz de sacerdotes, menestréis e, especialmente, de peregrinos franceses e alemães.

Em 1486 os Reis Católicos – Dona Isabel de Castilla e Dom Fernando II de Aragón – ao voltarem de uma peregrinação a Santiago de Compostela, quiseram conhecer o local do milagre. A devotada rainha, porém, quis levar o cálice e a patena do milagre para si. Poucos quilômetros à frente, nas proximidades de Pereje, os cavalos empacaram e nada os fazia seguir adiante. A rainha se convenceu de que isso era um sinal de que ela estava cometendo um grave pecado e ordenou o retorno à igreja. Os cavalos imediatamente obedeceram ao comando.

A rainha decidiu, não apenas devolver os itens levados, mas mandar confeccionar valiosos relicários, em ouro e cristal, para a conservação dos frutos do milagre e veneração dos fiéis.

A pequena igreja, construída em estilo pré-românico, é composta por três naves simples com absides retangulares e uma torre, guarda o mausoléu dos protagonistas dessa história: o padre e o camponês. Entre os elementos do interior da igreja destacam-se a pia batismal circular, esculpida em granito, único testemunho do templo fundacional; a imagem gótica de Cristo, que rege o Altar Maior; e a imagem da Virgem com o Menino Jesus no colo, junto aos relicários e ao Cálice e à Patena, na Capela do Santo Milagre, à direita do altar maior.

Vale lembrar que há uma certa confusão em relação à origem do cálice de prata da igreja de O Cebreiro – o chamado de Santo Graal galego – que preside o brasão da Galícia. A crença de que este fosse o cálice usado por Jesus Cristo durante a Última Ceia, no qual José de Arimatéia coletou o sangue de Cristo durante sua crucificação no Calvário, nasceu de uma associação linguística entre “Santo Graal” e “San Guiral”, pronúncia de “San Giraldo” em occitano, nome dado à hospedaria de O Cebreiro.

 

Na capela dedicada a San Benito, encontra-se o túmulo do padre Elias Valiña Sampedro, que dirigiu a paróquia a partir dos anos 60.

O “cura” de O Cebreiro foi responsável pela restauração não apenas do Hospital e Santuário de Santa María del Cebreiro, mas da própria vila. Também foi o idealizador, das setas amarelas – um dos símbolos internacionais do Caminho de Santiago – que ajudaram a promover o renascimento da peregrinação na década de 1980.

 

SETA AMARELA: SINALIZAÇÃO NO CAMINHO DE SANTIAGO

 

Em comemoração a este milagre, há séculos, todos os dias 8 e 9 de setembro, são marcados por festividades que tem início com uma missa que antecede a romaria, na qual peregrinos provenientes de muitas partes da Galícia e parte da comarca de El Bierzo acompanham as relíquias e a Estátua de Santa María La Real da cidade vizinha de Piedrafita do Cebreiro até a igreja de O Cebreiro.

A festa se completa com apresentações de músicas e danças tradicionais e degustação de produtos tradicionais da vila.

Desfrute de todos os elementos que compõem a essência do Caminho de Santiago!

 

 

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