DESCUBRATESTEMUNHOS PEREGRINOS

RELATO PEREGRINO por Dea Conti

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olhos de um homem idoso voltados para cima

Hoje faz um ano que conheci Osírio.

Eu estava caminhando, em meio à zona rural, por uma estradinha de terra que perpassava plantações e pequenos pastos de criação de gado. De repente, avistei, longe de mim, um velho que alimentava algumas vacas. Como era um tipo interessante, peguei a máquina fotográfica e caprichei no zoom, para aproximá-lo. Ele logo percebeu a manobra e passou a fazer sinal com as mãos. Entendi que estava protestando, por minha invasão, e esbocei um gesto de pedido de desculpas. Fiz menção de seguir em frente, mas ele acenou com mais força ainda, gritando qualquer coisa que eu não conseguia escutar direito. Observei que ele estava vindo em minha direção e resolvi esperá-lo. Ele foi chegando perto, muito devagar, o andar claudicante, amparado em um bastão rústico, e acompanhado de um cão. Ousei um pouco mais e saquei novas fotos, sem que ele percebesse. Quando se aproximou, olhou-me, por um breve e demorado instante, e perguntou se eu era peregrina e de onde vinha. Respondi que sim, peregrina, e que era brasileira. "Brasileira!", murmurou ele, num meio sorriso e ainda me observando com muita atenção. Então olhou para minha câmera fotográfica e pediu para ver as fotos que eu havia acabado de tirar. Mostrei a ele as fotos. Enquanto segurava minha câmera, junto comigo, esse homem se apresentou – Osírio – e me contou que tinha 86 anos e que uma única vez havia saído daquele lugar, onde vivia desde que nascera. Saíra, justamente, para ir a Santiago de Compostela, de carroça e depois de trem, em uma excursão escolar, quando tinha 14 anos de idade. Osírio tirou, então, duas nozes do bolso do casaco e as colocou em minha mão. Pediu que eu deixasse uma delas aos pés de Santiago, na Catedral, quando chegasse em Compostela. "A outra - disse-me ele - irá levar com você, ao Brasil, pois nela haverá um pouco de mim, que plantei e colhi essa noz. Eu irei ao Brasil nessa noz." De repente ali estava eu, perplexa, de boca aberta, com aquele homem me olhando firme e decidido. Então respondi "Sim, claro, farei como você pediu". Osírio entregou-me a câmera e fez mais uma solicitação: "Apague essa foto em que apareço sem meus dentes. Tire uma, só dos meus olhos, que são azuis como os seus." E eu o atendi.

Aqui estão os olhos azuis de Osírio.

 

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4 thoughts on “RELATO PEREGRINO por Dea Conti

  1. Muito bom!

  2. Gostei muito do relato. Estou cá com os meus botões desenhando esta peregrinação no meu coração. É assim que sempre começo uma viagem, vou primeiro em pensamentos e sabemos como ele voa. Tempos depois estou eu percorrendo lugares que vislumbrei em filmes e me sinto feliz e dona do meu destino.

  3. Que maravilha, Vitalina! Aqui é a Bia Leis e eu concordo com você, tudo que se realiza começa assim, como um sonho… Este relato foi escrito pela amiga peregrina Dea Conti e é realmente muito inspirador… Todos os peregrinos estão convidados a enviarem seus relatos para serem publicados no site. Quando chegar sua vez, sinta-se a vontade! Buen Camino!

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