Descobrir e desfrutar do patrimônio natural do Caminho de Santiago Francês. Este é o objetivo do Guia de Árvores do Caminho Francês, uma viagem pela Rota Jacobina e por suas espécies mais marcantes. Este guia pretende divulgar, no âmbito da iniciativa Caminho Sustentável, a riqueza ambiental do Caminho de Santiago, aprofundando-se num dos temas estruturantes da campanha: só se protege o que se conhece.
O Guia das Árvores do Caminho Francês é um mapa ilustrado feito pela artista María Meijide com o qual o peregrino descobrirá as árvores mais típicas de cada região que atravessa a Rota. Quer siga o Caminho Francês por Aragón (desde Somport) ou por Navarra (desde Roncesvalles), neste guia é possível identificar um total de 16 espécies, distribuídas por etapas nas quais estão indicados os locais específicos onde encontrá-las.
O guia conta, ainda, com uma pequena ficha com suas características físicas, que os ajudará a identificar a árvore, assim como uma nota que faz referência aos usos e tradições de cada espécie. Tanto a seleção das árvores como a elaboração das fichas são fruto do árduo trabalho da “Amigos da Terra”, associação de defesa do meio ambiente, que trabalha por uma sociedade mais respeitosa, justa e solidária e que se caracteriza por apoiar iniciativas que ajudam a melhorar nosso entorno.
AS 10 CIDADES MAIS FASCINANTES DO CAMINHO FRANCÊS
Os guias podem ser encontrados nos Correos de Jaca (Aragón), Burguete e Pamplona (Navarra), Logroño (La Rioja), Burgos, León e Ponferrada (Castilla y León) e Sarria e Santiago de Compostela (Galícia). Para quem deseja saber mais sobre o patrimônio natural do Caminho Francês, aqui estão algumas das características das 16 árvores que você não deve perder ao longo da Rota.
Abeto-branco (Abeto común) - Abies alba
Bosques de Canfranc (Etapa Somport-Jaca)
Como identificá-lo. Árvore perene, com tronco reto e colunar que pode atingir 50m. De casca cinza a esbranquiçada, lisa e com vesículas resinosas. Copa piramidal com os ramos principais retos. Suas folhas são lineares, com 1,5 a 3 cm de comprimento, planas, solitárias, não pontiagudas, dispostas em duas fileiras grossas, de cor verde-escura na face superior e com duas faixas esbranquiçadas na face inferior.
Usos e tradições. Além de ser tradicionalmente utilizada como árvore de Natal, sua madeira é amplamente utilizada na fabricação de instrumentos musicais como órgãos e na fabricação de papel. A terebentina é extraída das vesículas corticais com propriedades balsâmicas e cicatrizantes.
Freixo (Fresno) - Fraxinus excelsior
Margem do Rio Aragón (Etapa Jaca - Arrés)
Como identificá-lo. Árvore de folha caduca (caem nos meses mais frios) de até 45 m de altura. Casca lisa. Copa alta, oval e alongada. As folhas opostas são formadas por 9-13 folíolos lanceolados (em forma de lança) com bordas dentadas. Quando as folhas caem, adquirem uma tonalidade amarelada muito marcante.
Usos e tradições. A sua madeira era tradicionalmente utilizada na construção de carroças e utensílios agrícolas, enquanto as suas folhas são utilizadas como diurético, laxante e no combate da artrite, reumatismo e gota. Sua lenha é um bom combustível e dá um carvão de alta qualidade.
Carvalho-branco (Roble albar) - Quercus petraea
Bosque de Sorginaritzaga (Etapa Orreaga / Roncesvalles - Zubiri)
Como identificá-lo. Pode atingir 30m de altura. Tronco reto, com casca cinza ou acastanhada, escamosa e rachada. Sua copa é alta, larga e mais ou menos ovalada ou arredondada. As folhas frágeis são simples, alternadas, com pecíolo (cabo da folha) de 2-3 cm e sem “orelhas", com a margem dividida em lóbulos arredondados e contorno mais ou menos ovalado, de cor verde vivo na superfície superior e mais pálido na inferior.
Usos e tradições. Sua madeira é útil na construção naval e na fabricação de travessas e tábuas curvas para barris. A casca é rica em taninos e tem sido utilizada como adstringente. Nós o encontramos na floresta Sorginaritnaga ou “robledal de las Brujas”, que era onde aconteciam algumas das mais famosas assembleias de bruxas do século XIV.
Salgueiro-negro (Sauce) - Salix atrocinerea
Río Egea entrando em Estella (Etapa Puente la Reina / Gares - Estella / Lizarra)
Como identificá-lo. Árvore dioica (com plantas diferentes para cada sexo) de até 15m. Possui um tronco reto e grosso, com casca, primeiro cinza verdolenga, depois acinzentada e estriada. Copa alta e cônica que vai se deformando para irregular e alargada. Apresenta folhas simples, alternadas, lanceoladas (em forma de lança), finalmente serrilhadas e pontiagudas no ápice.
Usos e tradições. De sua casca era extraída a salicina, substância da qual deriva o ácido salicílico, mais conhecido como “aspirina”, que tem propriedades analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias. O salgueiro também é utilizado para proteção de leitos de rios e fixação de terrenos. Os ramos novos são usados como vime na cestaria.
Pinheiro-de-alepo (Pino carrasco) - Pinus halepensis
Pinhais à saída de Logroño (Etapa Logroño - Nájera)
Como identificá-lo. Pode atingir 25m de altura. Seu tronco é maciço e tortuoso. Casca cinza esbranquiçada e rachada. Copa irregular, larga, baixa, com muitos ramos e folhagem esparsa e verde clara. As folhas encontram-se de dois em dois, finas e compridas, muito flexíveis e ligeiramente amareladas. Pequenas pinhas pedunculadas (com hastes) que duram muito tempo na árvore.
Usos e tradições. Sua madeira é utilizada na produção de celulose, aglomerado e na fabricação de caixas. É um grande produtor de resina, que é extraída por meio de cortes feitos no tronco. Da resina ou terebintina podem ser obtidos diferentes produtos úteis para a indústria química. O pinheiro-de-alepo é uma das árvores da qual se diz que a cruz de Cristo poderia ter sido feita.
Avelaneira (Avellano) - Corylus avellana
Subida ao Alto de San Antón (Etapa Logroño - Nájera)
Como identificá-la. Arbusto de até 8m de altura. Tronco curto e reto. Casca marrom-acinzentada que, com o passar dos anos, vai escurecendo e rachando. Copa baixa e espalhada de forma irregular, geralmente ramificando-se a partir da base. Folhas simples e alternadas, arredondadas ou um pouco mais largas na metade superior e terminadas em ponta. Margem lobulada e duplamente serrilhada.
Usos e tradições. É cultivada por suas sementes, as avelãs, que são utilizadas na confeitaria, e pelos caules, que são utilizados na cestaria e na fabricação de tonéis. Das avelãs se extrai o óleo, que se usa na alimentação e na produção de perfumes, tintas, lubrificantes e sabonetes. Para os celtas, era a árvore da sabedoria e representava o conhecimento.
Faia-europeia (Haya) - Fagus sylvatica
Montes de Oca (Etapa Belorado - San Juan de Ortega)
Como identificá-la. Árvore de até 40m. Tronco reto e delgado que geralmente se ramifica desde baixo, com os ramos dispostos horizontalmente. Casca cinza-prateada, fina e lisa, que escurece e racha nos indivíduos mais velhos. Copa alta e ovalada em seu terço superior. Folhas simples, alternadas, dispostas em duas fiadas, elípticas ou ovaladas, com margem ondulada e ciliada.
Usos e tradições. A madeira da faia é valorizada na marcenaria e carpintaria. Com a lenha se faz o carvão. Seus frutos são comestíveis. A casca tem propriedades antipiréticas e com o alcatrão extraído de sua madeira se combatia a tuberculose. As florestas de faias são espetaculares no outono, quando suas folhas assumem diferentes cores de laranja, vermelho e ocre.
Azinheira (Encina) - Quercus ilex
Sierra de Atapuerca (San Juan de Ortega - Burgos)
Como identificá-la. Árvore de médio porte que pode atingir 25m. Tronco reto e cilíndrico. Casca cinza-escura, grossa e muito rachada. Copa alta, arredondada, denso e largo. As folhas são perenes, simples, alternadas, coriáceas (com aspecto de couro), lanceoladas (em forma de lança) ou elípticas, com a borda inteira ou dentada. Apresentam uma cor verde intensa no lado superior e tomentoso (coberto de lanugem) no lado inferior.
Usos e tradições. Seus frutos, as bolotas, são comestíveis, sendo utilizadas principalmente na alimentação de porcos. A madeira era utilizada para a obtenção de carvão e a lenha tem um grande valor calorífico. Sua casca é utilizada para a curtição de couro e possui propriedades adstringentes devido ao seu teor de taninos.
Álamo-prateado (Chopo blanco) - Populus alba
Margens do Canal de Castilla (Etapa Boadilla del Camino - Carrión de los Condes)
Como identificá-lo. Árvore dioica (com plantas diferentes para cada sexo) de até 25m. Tronco reto e robusto. Casca lisa e branca, com rachaduras na base em espécimes antigos. Copa alta, larga e irregular. As folhas são verde-escuras na face superior, brancas e felpudas na face inferior, variando em forma ovalada a palmiformes.
Usos e tradições. É usado para fixar margens de rios como proteção e como abrigo contra o vento. A madeira é pouco resistente e é utilizada para embalagens e celulose. As folhas e a casca têm propriedades adstringentes e antipiréticas.
Tramazeira (Serbal de cazadores) - Sorbus aucuparia
Descendo da Cruz de Fierro (Etapa Foncebadón - Ponferrada)
Como identificá-la. Árvore pequena de 8-10m. Tronco direito, casca cinza e lisa. Copa baixa e oval. As folhas são compostas por várias folhinhas (folíolos), de 11 a 15 encontram-se de dois em dois mais o ápice. Essas folhinhas são alongadas, com margem serrilhada, verde clara na parte superior e verde azulada na inferior.
Usos e tradições. Seus frutos vermelhos são muito valorizados no setor ornamental. Abundantes e persistentes no inverno, servem de alimento para muitos pássaros. Além disso, eles têm propriedades diuréticas e são ricos em vitamina C. Também é usado na fabricação de vodca. No norte da Europa, é a árvore que protege contra raios e bruxarias. A madeira é muito dura e homogênea, sendo muito valorizada por torneiros e marceneiros.
Carvalho-negral (Rebollo) - Quercus pirenaica
Montes de León (Etapa Foncebadón - Ponferrada)
Como identificá-lo. Árvore caducifólia (caem nos meses mais frios) de até 20-25m. Tronco reto e delgado. Casca cinza-acastanhada, grossa e rachada. Copa alta, larga, irregularmente lobulada e muito ramificada. As folhas permanecem murchas durante o inverno, simples, alternadas, quase coriáceas (com aspecto de couro), com pecíolos (cabo da folha), obovadas (em forma de ovo, com o ápice mais largo que a base) ou elípticas, de margem lobulada. Em geral são verdes e sem brilho na face superior e ásperas na inferior.
Usos e tradições. A sua madeira tem sido utilizada para travessas e para fazer carvão. As bolotas (fruto) são amargas e usadas para alimentar o gado. A casca possui propriedades adstringentes e, devido ao seu teor de taninos, é utilizada para curtir peles.
Cipreste-italiano (Ciprés) - Cupressus sempervirens
Convento de la Anunciada de Villafranca (Etapa Ponferrada - Villafranca del Bierzo)
Como identificá-lo. Árvore perene de até 30m, de tamanho muito variável. Tronco reto e grosso, às vezes com mais de um metro de diâmetro. Copa colunar de ramos eretos. Casca lisa, acinzentada e fina. As folhas são opostas, como pequenas escamas, aderidas ao ramo, dando origem a uma densa folhagem verde escuro.
Usos e tradições. Ao longo do Caminho costumava ser plantado nas portas dos albergues que hospedavam os peregrinos. No jardim do Convento de La Anunciada em Villafranca del Bierzo encontramos o cipreste que se supõe ser o mais alto e o mais antigo da Espanha, com 400 anos e 33 metros de altura. Sua madeira é leve e considerada imputrescível, por isso tem sido usada na fabricação de barcos. A tradição conta que até foi usada na construção da Arca de Noé. Foi plantada desde a antiguidade em cemitérios, sendo o símbolo da morte.
Castanheira (Castaño) - Castanea sativa
Ramil (Etapa O Cebreiro - Triacastela)
Como identificá-la. Árvore de até 30m. Tronco grosso e reto que fica oco quando velho. Sua casca lisa, acinzentada ou acastanhada em espécimes jovens; marrom escuro com rachaduras verticais nos mais velhos. Copa alta, esférica, muito ramificada e densa. Folhas caducas (caem nos meses mais frios), simples, alternadas, oblongo-lanceoladas (em forma de lança) e serrilhadas na borda.
Usos e tradições. Na aldeia de Ramil (1km de Triacastela) encontramos a castanheira centenária mais famosa e fotografada do Caminho de Santiago. A castanheira de Ramil tem mais de 800 anos de vida e um poderoso tronco de 8 metros de envergadura. A madeira da castanheira é de boa qualidade, muito valorizada na carpintaria e marcenaria. A casca e as folhas têm propriedades adstringentes. Seus frutos, as castanhas, constituíram uma importante fonte de alimento antes do aparecimento da batata.
Carvalho (Roble) - Quercus robur
Robledales de Calvor e Rente (Etapa Sarria - Portomarín)
Como identificá-lo. Grande árvore caducifólia (caem nos meses mais frios) de grande estatura que atinge mais de 40m. Tronco reto e robusto, com casca acinzentada e lisa até os 20 anos. Depois, marrom, grosso e rachado. Copa arredondada, larga e regular. Folhas frágeis, simples, alternadas, espatuladas ou oblongas (alargadas com os lados ligeiramente paralelos) pecíolo (cabo da folha) curto e com a base com pequenas aurículas ou “orelhinhas”.
Usos e tradições. O carvalho tem grande valor ornamental e paisagístico. A madeira é amplamente utilizada na construção naval, fabricação de dormentes, tonéis, carpintaria e marcenaria. A casca contém taninos, úteis para curtir peles. Sua lenha e seu carvão são de excelente qualidade, utilizados na forja de ferro.
Azevinho (Acebo) - Ilex aquifolium
Rio Pambre (Etapa Palas de Rei - Arzúa)
Como identificá-lo. Arbusto perene até 10m. Tronco reto e muito ramificado. Casca lisa, verde-acinzentada. Copa baixa, cônica e muito densa. Folhas persistentes, simples, alternadas, coriáceas (com aspecto de couro), ovais ou elípticas, de borda ondulada e espinhosa. São verde-escuras e brilhantes do lado superior e mais pálidas do lado inferior.
Usos e tradições. A sua madeira é muito densa, dura e é utilizada em marcenaria, tornearia e construção. Possui um grande valor ecológico, pois é refúgio e reserva de alimento para muitas espécies animais. É amplamente utilizada como enfeite de Natal, por isso está proibida a coleta e comercialização de exemplares silvestres, sendo uma espécie protegida.
Amieiro (Aliso) - Alnus glutinosa
Rio Catasol (Etapa Palas de Rei - Arzúa)
Como identificá-lo. Árvore de médio porte, entre 10 e 15m de altura. Tronco reto e cilíndrico. Casca lisa, acinzentada ou marrom-esverdeada nos jovens, que se torna marrom-escura e dividida em placas largas na maturidade. Folhas frágeis, simples, alternadas, obovadas (em forma de ovo, com o ápice mais largo que a base) ou arredondadas, duplamente dentadas, verde-escuras na face superior e mais claras, com tufos de pelos nas nervuras da face inferior. As folhas novas são viscosas.
Usos e tradições. A madeira é útil para tornearia, na fabricação de tamancos e na obtenção de pólvora. Resiste bem à água e é utilizada na construção de pontes e moinhos. As folhas e a casca possuem uma grande quantidade de taninos que são usados como corantes. Além disso, têm propriedades antissépticas, sendo utilizados contra dores de garganta. Também são usados para curar pés doloridos.
Para que conheçam um pouco mais sobre o projeto, deixamos uma pequena entrevista que realizamos com Patricia Iglesias, integrante da “Amigos da Terra”, e María Meijide, a artista.
Esperamos que este guia os ajude a desfrutar do patrimônio natural do Caminho de Santiago e contribua para conservá-lo. ¡Buen y sostenible Camino, peregrinos!
Fonte: Camino con Correos
Tradução: Bia Leis
CAMINHO FRANCÊS DE SANTIAGO
CURTA: DIVULGA: CAMINO FRANCÉS by Zinqin (1:22)
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