Os símbolos do Caminho de Santiago, em última instância, representam padrões de comportamento associados ao papel do peregrino com sua busca espiritual, com o reconhecimento do solo sagrado a ser percorrido e com a ligação entre peregrinos de todos os tempos e lugares.
Como um caminho iniciático, o Caminho de Santiago é repleto de símbolos que devem ser conhecidos por todos os peregrinos que ousam embarcar nesta aventura física e espiritual e queiram ter uma experiência mais profunda, inclusive por meio do conhecimento de seus mistérios, segredos e história.
1. Concha de Vieira
A concha bivalve da Vieira – marisco facilmente encontrado na costa galega – é um dos mais antigos e o principal símbolo do Caminho de Santiago e de seus peregrinos. Igrejas, imagens, pontes, ruas e casas das rotas jacobinas são adornadas com elas.
Duas versões lendárias sobre a origem do símbolo o relacionam com a morte de Santiago. A primeira versão conta que quando os discípulos levaram seu corpo de barco para a Península Ibérica, uma violenta tempestade atingiu o navio, o corpo caiu ao mar e se perdeu. Depois de algum tempo, o corpo apareceu na costa, intacto e coberto por conchas de vieira. A segunda versão afirma que quando o navio que levava o corpo do apóstolo se aproximou da costa ibérica, ocorria um casamento. O jovem noivo estava montado num cavalo que se assustou e ao ver o navio se aproximar. Após terem afundado no mar, cavaleiro e cavalo emergiram vivos, cobertos de conchas de vieira.
Segundo alguns estudiosos a verdadeira origem do símbolo deriva do fato de que, tradicionalmente, todos os peregrinos que chegavam a Santiago de Compostela recebiam um pergaminho e uma concha de vieira, que logo eram colocados em seus chapéus ou capas, como forma de distinguir os peregrinos que já regressavam às suas casas, daqueles que ainda seguiam em direção à meta.
O símbolo ostentado como prova de sucesso na peregrinação – havia sido produzida uma mudança na vida daquela pessoa e que ela voltava para casa sendo alguém diferente – foi se popularizando e, aos poucos, todos os peregrinos passaram a exibi-lo como forma de identificação, dando-lhe um salvo-conduto e garantindo-lhe proteção e acolhida durante a caminhada.
Outros afirmam que, sendo o mar um grande desconhecido dos habitantes da Europa Central e como eles sabiam que o Sepulcro de Santiago se encontrava nas proximidades da costa, ao regressarem às suas casas os peregrinos levavam uma concha como recordação e prova de haverem cumprido sua peregrinação. Daí o costume de após chegarem à tumba do Apóstolo, seguirem para Finisterra – o fim do mundo conhecido na Idade Média – e apanharem uma concha. Esta hipótese reforça a ideia de que o Caminho não terminava em Santiago de Compostela, mas na Costa da Morte.
Ao longo dos séculos, a vieira ganhou significados práticos, metafóricos e míticos.
A mítica vieira era utilizada como tigela de comida e para beber água nas fontes do Caminho. Também é vista como uma metáfora, uma vez que – assim como as diferentes rotas usadas pelos peregrinos terminam num mesmo destino – seus sulcos se unem em um só ponto. Metáforicamente, da mesma forma como as ondas do oceano arrastam conchas de vieira para a costa da Galícia, a mão de Deus guia os peregrinos a Santiago de Compostela.
2. Flechas Amarillas (Setas Amarelas)
O Caminho de Santiago atraiu numerosos peregrinos até meados do século XVI, mas no século XVII o número de devotos começou a diminuir drasticamente. Com o declínio das peregrinações as estradas ficaram abandonadas por falta de uso.
Esta tendência só mudou na década de 80 do século passado, em grande parte, graças aos esforços do padre Elias Valiña - pároco de O Cebreiro - que não apenas idealizou, mas pintou as primeiras setas amarelas que ajudaram a promover o renascimento da peregrinação e se transformaram em um dos símbolos internacionais do Caminho de Santiago.
SETA AMARELA: SINALIZAÇÃO NO CAMINHO DE SANTIAGO
Icônica e simples, a seta amarela indica a direção que o peregrino deve seguir para chegar em Santiago de Compostela e está pintada nos lugares mais singulares, como pedras, troncos de árvores, ruas, pontes, postes e muros. Toda vez que as encontramos, recuperamos a confiança de que estamos caminhando na direção correta.
Este símbolo do Caminho de Santiago guarda em si a existência de um Caminho e de uma direção a seguir. Como na vida, existem vários caminhos que levam a um mesmo lugar, basta seguir na direção certa. Após o término da jornada, refletir sobre qual direção dar à própria vida é uma tarefa quase que inevitável.
3. Mojón (Marco Miliário)
Miliários são marcos físicos, de pedra ou concreto, que servem de guia em locais despovoados. Colocados a cada mil passos ou uma milha romana (1.418 metros), foi uma marcação de distância amplamente usada nos caminhos romanos.
Queridos e fotografados por milhões de peregrinos, os marcos indicativos - símbolos do Caminho de Santiago - são encontrados em diferentes rotas do Caminho e marcam a distância que falta para se atingir à meta: a Catedral de Santiago de Compostela!
4. Milladoiros
Os chamados milladoiros são elementos rituais dos mais antigos e fortes do Caminho de Santiago. São montes que se formaram pelo acúmulo de pedras que os peregrinos foram deixando nas proximidades de santuários, cruzes e locais sagrados durante séculos. Entretanto, é bastante comum encontrar em todo o trajeto pedras postas de maneira equilibrada.
Muitos peregrinos carregam pedras simbólicas por longas distâncias para serem depositadas na Cruz de Ferro, no alto do Monte Irago, em León, num ritual em que elas simbolizam oferendas, pedidos ou problemas que foram deixados para trás. Muitos depositam uma pequena pedra, trazida de sua terra de origem, como testemunho de sua peregrinação.
RITOS PEREGRINOS AO CHEGAR A SANTIAGO
5. Bordón (Cajado)
O Cajado clássico – feito especialmente de galhos das avelaneiras ou dos castanheiros e usado pelos peregrinos desde tempos imemoriais – era um instrumento de apoio ao longo do percurso, uma vez que o caminho é longo, acidentado, pedregoso e cansativo. Também servia para pendurar objetos e para defesa contra assaltantes e animais que os atacavam.
O Bastão é um fiel companheiro que nos apoia nas dificuldades. Simbolicamente, representa uma terceira perna, que dá estabilidade suporte quando estamos cansados e nos impulsiona a seguir em frente, assim como a fé na Santíssima Trindade ou mesmo aqueles que nos amparam e nos encorajam em nossas vidas.
6. Calabaza do Peregrino (Cabaça do Peregrino)
Embora o uso de cabaças para transportar água ou vinho seja anterior ao Caminho de Santiago, os peregrinos medievais sempre levavam uma cabaça amarrada ao cajado, para manter os líquidos resfriados durante as caminhadas.
Na simbologia cristã, a abóbora representa a brevidade e a fragilidade da vida terrena, porque é uma fruta que cresce rápido, mas quebra-se muito facilmente.
Atualmente a cabaça foi substituída por opções mais eficientes, mas continua sendo usada apenas simbolicamente.
7. Mochila
Um dos símbolos mais pessoais do Caminho de Santiago, a mochila costuma refletir a personalidade de cada peregrino. Símbolo de apego/desapego, a mochila vai carregada daquilo que é mais importante para cada um. Porém, muitas vezes o peregrino só se torna consciente de quanto as coisas pesam e são desnecessárias quando começa a carrega-la nas costas.
Este processo de reavaliação dos pesos indevidos que poderiam ser evitados é muito simbólico, pois na vida não é diferente. Muitas vezes carregamos pesos que não são nossos ou de coisas que não necessitamos mais, mas só percebemos isso quando a carga se torna insuportável.
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8. Credencial do Peregrino
A Credencial do Peregrino, além de ser uma das mais queridas lembranças da peregrinação, é um documento oficial da Catedral de Santiago – pessoal e intransferível – que identifica seu portador como sendo um peregrino.
Sua origem data da Idade Média, quando os peregrinos a recebiam como um salvo-conduto que lhes dava o direito de viajar livremente e pernoitar em albergues, igrejas e monastérios ao longo de todo o Caminho de Santiago. Da mesma forma, nos dias atuais, a Credencial do Peregrino permite o acesso aos albergues de hospitalidade pública e cristã do Caminho e a comprovação de que o mesmo cumpriu os requisitos para a solicitação da “Compostela”.
Durante a peregrinação a Credencial do Peregrino é carimbada e datada nos albergues e também em outros locais, como paróquias, mosteiros, catedrais, prefeituras, agências dos correios e até mesmo em bares. Os “sellos” ou carimbos tem a finalidade de comprovar a passagem do peregrino por estes pontos ao longo da rota percorrida.
Ao chegar a Santiago de Compostela o documento é analisado na Oficina do Peregrino, para a emissão da “Compostela”.
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9. Compostela
A Compostela é o documento oficial emitido pelas autoridades eclesiásticas, escrito em latim, que certifica que o peregrino alcançou sua meta e o fez por motivos religiosos e/ou espirituais, seguindo uma das vias do Caminho de Santiago a pé, de bicicleta ou a cavalo.
A origem deste documento remonta ao século IX como uma recompensa aos peregrinos que chegaram a Santiago de Compostela, por lhe ter concedido alguns privilégios quando se tratava de ficar na cidade depois de terminada a viagem.
Para sua obtenção é preciso ter viajado pelo menos os últimos 100 quilômetros a pé ou a cavalo, ou os últimos 200 quilômetros de bicicleta, o que é comprovado pela Credencial do Peregrino devidamente carimbada ao longo da rota percorrida.
10. Codex Calixtinus ou Códice Calixtino
O manuscrito de meados do século XII, conhecido pelo grande público por seu livro V – o mais antigo guia para os peregrinos que trilhavam o Caminho de Santiago de Compostela – além de ser um símbolo da rota compostelana inclui conselhos, descrições do percurso e das obras de arte nele existentes, assim como usos e costumes das populações que viviam ao longo da rota.
Os demais livros contém diversos sermões, narrativas de milagres e textos litúrgicos relacionados ao apóstolo São Tiago.
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11. Botafumeiro (Incensário)
O botafumeiro (turibulum magnum) é um dos símbolos mais conhecidos da Catedral de Santiago de Compostela.
Segundo especialistas, embora atualmente tenha função cerimonial, inicialmente – há quase 1.000 anos – foi usado como um elemento purificador das multidões que se reuniam no interior do templo, após longas peregrinações.
O espetáculo, ao som do Hino do Apóstolo, interpretado nos órgãos barrocos, começa após a Eucaristia.
Esta relíquia, que quando carregada com carvão e incenso ultrapassa os 100 kg, necessita de um grupo de oito homens – chamados tiraboleiros – para entrar em movimento e alçar seu vôo.
CURTA: EL VUELO DEL BOTAFUMEIRO by El Templo de las Estrellas (2:19)
12. Cruz de Santiago
A Cruz de Santiago, de cor vermelha e forma de espada, recorda o apóstolo Tiago, protetor dos cristãos na Guerra da Reconquista, que visava à recuperação das terras dos ibéricos cristãos perdidas para os árabes durante a invasão muçulmana da Península Ibérica.
Seus braços e empunhadura terminam em uma flor-de-lis, símbolo de poder, soberania, honra e lealdade, assim como de pureza de corpo e alma.
Foi usada pela primeira vez pela Ordem Militar e Religiosa de Santiago, fundada em 1160, durante as cruzadas, no reino de León, por 12 Cavaleiros, para defender os peregrinos que iam ao sepulcro do Apóstolo Santiago em Compostela.
13. Pata da Oca (Pata do Ganso)
A Pata de Oca é uma runa – letra usada na Antiguidade e Alta Idade Média – usada para a escrita de línguas germânicas do Norte da Europa – reconhecida como um símbolo usado pelos antigos construtores das catedrais, para determinar a incidência da luz solar nos solstícios e equinócios e criar os jogos de luz que passaram a ser vistos como milagres. Estas marcas, esculpidas em pedra, ainda hoje podem ser admiradas em muitas igrejas do Caminho de Santiago.
Há ainda quem a veja como símbolo do homem com os braços elevados ao céu ou, ainda, das tríades da vida em eterno movimento e equilíbrio: nascimento, vida e morte; corpo ou mente e espírito.
Também é sabido que gansos selvagens possuem rotas migratórias sazonais que coincidem com o Caminho de Santiago e, por isso, muitos peregrinos, supostamente, usavam suas marcas como guia para chegarem a Santiago de Compostela.
O místico Jogo da Oca de utilização e difusão restritas aos círculos ocultistas na Idade Média, como as lojas de construtores iniciados na arte sagrada, além de representar a descoberta do centro espiritual inexplorado em meio a um labirinto, tinha o objetivo de trazer respostas, através de sua simbologia.
No Caminho de Santiago, existe uma série de indícios que configuram paralelismos entre o significado do jogo e o sentido místico da peregrinação.
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